Dia desses eu estava pensando como a gente perdeu a noção do tempo, como tudo está andando tão rapidamente. A expressão popular “o tempo está voando” nunca se fez tão presente. Concordo com o dito do povo, só acrescento que esse voo é feito em um foguete a mais de três mil por hora. O que já foi uma viagem em carro de bois transformou-se num passeio de míssil.
Um dia desses aí eu estava com meus 15 anos, jogando futebol de salão, achando que seria o “garoto dos pés mágicos”. Foi num estalar de dedos que me tornei professor de Língua Portuguesa, depois jornalista, depois cozinheiro, depois órfão de pai e mãe. Quando vi, cabelos e barba grisalhos denunciavam o voo altaneiro do tempo e a inexorável certeza de que não havia volta.
A minha retina já havia visto dezenas de centenas de situações versas, inversas, adversas, adversativas, verdadeiras e irreais. E, a cada dia, a surpresa de um novo mundo que se cria em todo amanhecer. Também sei ter o pasmo inicial de uma criança ao nascer para a novidade do mundo (estou parafraseando aqui Fernando Pessoa). É como se tudo fosse novo: sol, lua, nuvens, mar, céu, eu. Isso é muito doido.
Porém o fato de o tempo estar passando assim ligeiro nos remete a uma necessidade muito urgente também: como estamos utilizando este tempo. Sim, o modo de uso do que você tem de mais importante na vida diz muito sobre suas angústias, ansiedades. Viver a vida no passado faz sofrer porque não há como mudá-lo. Viver a vida no futuro gera ansiedade por uma espera que não chega. O resultado disso: consultórios de psicologia abarrotados por pessoas presas fora do tempo presente.
Sendo assim, entenda: passado e futuro não existem, exceto no discurso. Por essa razão, aproveite o dom do agora. Diga a quem você ama que sente amor; dê aquele mimo a quem você gostaria de dar; doe sangue; sorria enquanto você tem músculos para isso; esqueça as mágoas e perdoe para se livrar da carga; cultive plantas e as regue diariamente para que cresçam. Faça tudo que se deve fazer e busque leveza. Eu fiz isso. Amenizou a dor de existir diante das intempéries que surgem na trajetória.
Papai tempo está passando. Talvez você só entenda essa passagem quando o que era pra ser já foi. E, se virou pretérito, já fora. Lembre-se sempre de que o amanhã sempre será amanhã. Nunca chega. Faça do hoje seu presente e se sinta feliz por contemplá-lo. Vá rápido porque, somente nessa leitura, o tempo já passou!
