ARACAJU/SE, 3 de maio de 2024 , 13:03:22

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De velhos músicos de minha aldeia

Eliseu marceneiro revela a Zezé da Requinta o grande passo que queria dar na vida: servir o Exército e tocar na banda. Zezé com uma pergunta o desarmou: e quem vai tocar bombo no seu lugar? Eliseu murchou. Não foi. Ficou atuando como marceneiro e tocando bombo, na sede da banda e nas apresentações lá fora. Na sede, tudo bem, o bombo tinha uma pequena cadeira apropriada para ser apoiado durante os ensaios. Na rua, pendurado na barriga, parecendo uma mulher em véspera do parto. Participei da banda com Elizeu tocando bombo.

Zezé da Requinta depois da banda se desligou. Quando esta se reunia, duas vezes por semana, muitas vezes faltava um músico. Iam chamar  Zezé para substitui-lo. Não se dizia nem qual o instrumento. Qualquer um. Zezé tocava todos. Não o alcancei. Só a sua notoriedade, como músico e compositor, os dedos tamborilando acordes que não iam mais para o papel.

Seu Jovianino, que Sebrãozinho considerava o mais saxofonista da banda de todos os tempos, de nome pomposo – Jovianiano Rego da Cunha Melo -, de berço de músico, sobrinho de Jorge Americano e primo de Luiz Americano, peso danado para um saxofonista que não saiu de Itabaiana, soube se safar bem. Ainda o alcancei, no ano de 1964, na minúscula sede da Rua do Cisco, como se apreciasse os últimos raios do entardecer. O enorme sax-tenor de metal amarronzado na boca, e assim, no meio do ensaio, dormia, ninguém com coragem de lhe despertar, nem o irmão, Antonio Melo, o maestro. Quando a banda passou para a sede da Praça da Matriz, seu Joviniano morava em Aracaju. Não o vi mais. Lá faleceu.

Seu Néu passou uma temporada no Rio de Janeiro quando a filha cega faleceu.  No retorno, saxofone alto, estava presente aos ensaios, a boca sem dente, acentuando-se pelo queixo fino. Na minha santa ignorância – eu estava iniciando a participação nos ensaios munido de trompa – a impressão que tinha era de que ele não tocava mais nada. Parece ter ouvido meus pensamentos e veio até onde eu estava, no último banco, onde bem ouvi o som de seu sax.

Esse pessoal já se foi, sem levar no caixão o instrumento. Tivessem assim feito, inda hoje tocariam, formando uma filarmônica só de ases. Dela eu não teria o menor desejo de participar.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras