ARACAJU/SE, 27 de abril de 2024 , 9:07:18

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A percepção da população sobre a inflação

Conforme definido pelo Banco Central do Brasil, a inflação é o aumento dos preços de bens e serviços. Ela implica diminuição do poder de compra da moeda. A inflação é medida pelos índices de preços. O Brasil tem vários índices de preços. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é o índice utilizado no sistema de metas para a inflação que é acompanhado pelo Banco Central do Brasil. Cabe destacar que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) produz dois dos mais importantes índices de preços: o IPCA, considerado o oficial pelo governo federal, e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). De acordo com o IBGE, o propósito de ambos índices é o de medir a variação de uma cesta de produtos e serviços consumida pela população.

O IBGE explicita que a diferença entre os índices está no uso do termo “amplo”, pois o IPCA engloba uma parcela maior da população. Ele aponta a variação do custo de vida médio de famílias com renda mensal de 1 e 40 salários mínimos. Já o INPC verifica a variação do custo de vida médio apenas de famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos. Esses grupos são mais sensíveis às variações de preços, pois tendem a gastar todo o seu rendimento em itens básicos, como alimentação, medicamentos, transporte etc.

Estarei abordando as questões conceituais do tema, para a reflexão sobre as diferentes percepções que a população tem sobre a inflação e para isso, usarei dados de uma pesquisa que foi realizada pela Federação Brasileira de Bancos – FEBRABAN (RADAR  FEBRABAN), com data base de fevereiro de 2024, que aponta a percepção e expectativa da sociedade sobre a vida, aspectos da economia e prioridades para o país, mas neste ensaio abordarei especificamente e somente o quesito da inflação.

De acordo com a pesquisa da FEBRABAN o brasileiro está iniciando 2024 otimista, porém preocupado com os preços, ou seja, o brasileiro está temeroso com a inflação.

Entre os diversos resultados da pesquisa temos que quase sete em cada dez brasileiros entrevistados (67%) avaliam que os preços dos produtos aumentaram muito, treze pontos a mais que em dezembro de 2023.

A pesquisa aponta o cenário de muitas contas a pagar no início de ano, a exemplo de material escolar, IPTU, IPVA, contas a pagar das compras de final de ano, entre outras que pesam bastante sobre o orçamento doméstico. Isto reflete de como a pessoa percebe e vê a inflação.

Na pesquisa da FEBRABAN, o número de pessoas que observaram diminuição dos preços recuou de 24% em dezembro para 11% em fevereiro e a parcela que enxerga estabilidade praticamente não apresentou alteração, oscilando de 20% para 21% no mesmo período.

Discriminando-se os dados da pesquisa para melhor entendimento dos resultados, observa-se o seguinte: as mulheres perceberam mais os aspectos de aumento de preços em relação aos homens; do ponto de vista de idade, o público que mais percebeu a inflação foi a população na faixa de 45 a 59 anos; do ponto de vista de renda familiar, a inflação foi mais percebido para a população com rendimento acima de 5 salários mínimos; entre as Regiões, foi no Sudeste onde a população sentiu mais a percepção de inflação neste início de ano.

Entre os itens que medem a inflação, a pesquisa apontou que voltou a subir a percepção de que alimentos e outros produtos domésticos são os itens mais impactados pela inflação. Já combustíveis, serviços de saúde e remédios tiveram uma percepção de estabilidade.

A pesquisa revela que as medidas relacionadas ao crédito rotativo do cartão de crédito, fez recuar as menções sobre este tópico como impactante nos quesitos inflacionários.

A percepção de inflação no segmento de educação foi ampliada, o entendimento dos pesquisados foi de que o pagamento da escola, faculdade ou outros serviços de educação, além de matrículas e material escolar ficaram mais caros.

Um dado interessante da pesquisa foi a lista dos itens que na percepção das pessoas mais impactam na sua inflação pessoal, que foram os seguintes, por ordem do maior para o menor: consumo de alimentos e outros produtos de abastecimento doméstico; preço do combustível; pagamento de serviços de saúde e remédios; juros do cartão de crédito financiamento e empréstimo; pagamento da escola, faculdade ou outros serviços; valor da passagem de transporte público; planos de compra de veículos e imóveis; planos de compra de móveis e eletrodomésticos e; planos de viagem.

A percepção de inflação do consumidor é sentida diretamente nos preços dos produtos que compõem a sua cesta de consumo individual ou familiar e nem sempre corresponde à cesta da média dos produtos utilizados para o cálculo da inflação. Além disso, se leva em consideração a restrição orçamentária que é formada pela renda do consumidor e as suas possibilidades de escolha, conforme os preços dos produtos, bens ou serviços a serem adquiridos.

Nos estudos de microeconomia ao analisar a teoria do consumidor, sabemos que a escolha do consumidor, também chamada de ótimo do consumidor ou equilíbrio do consumidor considera pressupostos de racionalidade, conforme os economistas clássicos, a exemplo de Stuart Mill, as pessoas buscam bens (materiais ou não materiais) que possam maximizar a sua utilidade ou satisfação pessoal e isto pode afetar a sua propensão ao consumo, independente do preço do bem e isto tem consequência nas questões inflacionárias, pois se aceitamos um preço maior que é regido pelas leis do mercado, o sistema mercadológico irá impor o referido aumento que contribui para o processo inflacionário.

Portanto, existem diferentes percepções sobre os aumentos de preços de acordo com o perfil do consumidor, seus hábitos e costumes e suas preferências e necessidades essenciais.